Moda sem gêneros

No post de hoje vou falar sobre um movimento que vem causando furor nas passarelas e nas ruas. Não é nenhuma novidade, mas hoje está mais forte do que nunca. Por mais distante que pareça da nossa realidade – a dos brasileiros –, basta uma passeada por alguns bairros de grandes cidades, como São Paulo, que você vai ver o que estou falando. A influência da moda feminina na masculina – e vice-versa – tornou-se mais do que uma tendência e não deve ser ignorada. É a moda sem gênero, ou para ambos os gêneros.

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Campanha Gucci, Outono 2015

Os símbolos do masculino e do feminino sempre foram inspirações para grandes estilistas e artistas em todo o globo. Polêmica, a integração desses dois universos é assunto cada vez mais pertinente, visto as recentes discussões sobre   direitos sexuais, identidade de gênero e até política – como esquecer a atual aprovação da união homoafetiva nos EUA?

O assunto também ganhou força por conta da cultura popular. Kanye West em 2012 causou furor ao usar um kilt – aquela saia tradicional escocesa – da Givenchy em seus shows, além de camisas longas que lembravam vestidos. Em 2014, a cantora Conchita Wurst venceu o prêmio Eurovision Song na Áustria, conquistando fama mundial – pela voz e pela aparência. Além disso, grandes revistas internacionais com Vanity Fair e Time estamparam suas capas com as transexuais Caitlyn Jenner, ex-atleta olímpico e padrasto das irmãs Kardashian, e Lavern Cox, da série “Orange Is The New Black”, respectivamente. E, como de costume, a moda foi uma das primeiras áreas a abraçar esse debate que envolve símbolos, sociedade e luta por igualdade de gêneros.

Para ilustrar esse novo pensamento, nada melhor que a Gucci. A marca italiana, famosa pelos desfiles com forte apelo sensual, vendia a imagem de um homem sensual, numa alfaiataria justa, valorizando o corpo. Em janeiro deste ano, a então diretora criativa, Frida Giannini, deixou a marca dando lugar a Alessandro Michele. Ele operou uma mudança de imagem da marca em sua primeira apresentação, mostrando modelos em roupas em que o masculino e o feminino andavam juntos. Há quem possa estar pensando “e as vendas? Caíram ou diminuíram?”. A resposta é que aumentaram depois de dois anos completamente estagnadas.

Mais do nunca, os seis últimos meses afirmaram ainda mais esse movimento. Dos desfiles masculinos de primavera-verão da Saint Laurent a Hermès, passando pelos grandes nomes do fast-fashion e lojas multimarcas, como TopShop e Selfridges (que possui uma sessão inteira destinada a esse tipo de visual), as roupas com modelagem e cores unissex foram introduzidas com mais força. Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo na Commes des Garçons e Ann Demeulemeester são só alguns dos muitos nomes que desde o começo da carreira batem nesta tecla.

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Da esquerda para a direita: Hermès Primavera 2016 e Saint Laurent Primavera 2016

Mas quais peças, afinal, são essas? Casacos longos, camisetas, regatas, blazers e paletós retos – para quem tem um pouco de cintura – ou justos, para os que tem o tronco mais quadrado, jeans e alfaiataria em geral. Todas as peças em tons mais neutros, modelagens fluídas e muitas vezes distantes do corpo. Liberdade de estereótipos e quebra de paradigmas são os reflexos de uma nova forma de pensar sendo espelhadas e incorporadas pela moda.