Quase como um reflexo à suposta crise financeira do país, a temporada de Inverno 2016 desfilada na última edição do SPFW (que comemorou seus 20 anos nesta 40ª edição) apresentou algo além de roupas, mas uma avalanche anti-criativa que acometeu boa parte dos nossos estilistas.

Colcci Inverno 2016 Fonte: fotosite
Discutir a produção de uma moda genuinamente brasileira é complicado até porque, convenhamos, o que é moda genuinamente francesa, por exemplo? Entende-se por moda brasileira aquilo que é produzido em solo nacional, por brasileiros. Fim. Mas isso não significa que nossos olhares – nossas criações, portanto – devam buscar referências sempre (e somente) nas passarelas gringas. O problema jaz na síndrome do vira-lata que tanto atormenta uma parcela da elite criativa: a necessidade de ter o carimbo estrangeiro, superior em todos os aspectos, como salienta Pedro Diniz em sua matéria sobre o estrangeirismo na moda nacional para a Folha de São Paulo.

Vitorino Campos Inverno 2016 Fonte: fotosite
Defendida por alguns como inspiração ou sincronização com a coletividade criativa em virtude de um mundo globalizado, a cópia é uma realidade que sempre esteve presente nas nossas semanas de moda. Marcas estrangeiras como Gucci, Céline, Lowe, Rick Owens e Miu Miu (a lista é longa) estiveram presentes nas passarelas paulistanas, mas não em corpo, em alma: plasmadas em tecidos, cabelos e maquiagens.

Amapô Inverno 2016 Fonte: fotosite
No entanto, no que mais nos concerne, moda masculina, algo de interessante aconteceu: mimeses a parte, uma grande parcela de marcas resolveu apresentar rapazes nas passarelas. Vitorino Campos, em sua marca homônima, que sempre mostrou casting composto 100% por mulheres, trouxe dois rapazes. A mineira GIG Coulture, na mesma linha do Vitorino, renovou os ares apresentando looks masculinos. UMA Raquel Davidowicz, Lino Villaventura, Amapô, Colcci, Ellus, Ronaldo Fraga, Osklen e Ratier… Lista longa para uma semana que conta com apenas um designer de moda focado em produção inteiramente masculina, o alfaiate João Pimenta (para o qual dediquei um post inteiro clique aqui, caso ainda não tenha lido). Parece-me que estamos ganhando cada vez mais espaço nas araras alheias (já era tempo).

Da esquerda: Ronaldo Fraga e Lino Villaventura, ambos Inverno 2016 Fonte: fotosite
Numa época em que o embate entre gêneros é a tendência máxima, é compreensível que a mistura desses arquétipos esteja cada vez mais presente nos desfiles: homens em semanas femininas e mulheres em semanas masculinas.

Osklen Inverno 2016 Fonte: fotosite
Num goticismo entre o literal e o lúdico, a Amapô mostrou sua coleção numa tentativa de entreter um público tenso com peças engraçadas e com forte apelo ao Halloween. Oskar Metsavaht, em sua Osklen, buscou inspiração na Grécia, olhando para trás 776 anos antes de Cristo, para ser preciso ao se inspirar nos elementos dos tradicionais Jogos Olímpicos. As criações arquitetônicas e dramáticas de Ronaldo Fraga e Lino Villaventura em oposição ao minimalismo de UMA e Ratier (esse mais teatral), assim como o esporte da Ellus e a belíssima alfaiataria do João Pimenta são outros pontos a salientar.

Da esquerda: UMA Raquel Davidowicz e Ratier, ambas Inverno 2016 Fonte: fotosite
Mas o que o evento trouxe de fato em termos de inovação? Há em nosso próximo inverno algo que ainda não tenhamos visto nas semanas de moda prévias? Inverno sim, novidade não ouvi certa vez por aí… Acho que nunca fez tanto sentido.