Casa de Criadores: o Inverno 2016 da nova geração de estilistas brasileiros

Acontece duas vezes ao ano na cidade de São Paulo o maior evento de novos estilistas brasileiros: a Casa de Criadores tem como proposta impulsionar a nova geração criativa de designers de moda com uma série de desfiles patrocinados por diversas empresas, de fábricas de tecidos à ABIT (Associação Brasileira de Indústria Têxtil).

Na semana passada, do dia 13 ao dia 16, as coleções de Inverno 2016 foram apresentadas no espaço Campo de Marte, na zona norte da cidade. O evento, que atrai de estudantes a imprensa especializada, contou com diversas apresentações até então inéditas no line up. Conferi em primeira mão as novidades (em tempo real, para quem acompanhou no meu Instagram) e vou explicar para vocês o que esses jovens criadores estão propondo para nossa próxima temporada de frio.

Heloísa Faria abriu o evento com uma coleção mesclando modelos masculinos e femininos: quase todos em P&B, sobreposição, tecidos leves e metalizados. Além disso, algumas peças vieram com aplicação de tapeçaria com referências da América Central.

 

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Fonte: chic.com.br

A Der Metropol (em parceria com a West Coast) voltou para essa edição no line up da Casa de Criadores com casting quase inteiro composto por rapazes. Nesta coleção a marca trouxe roupas inteiramente inspiradas no streetwear, como estampas de caveiras que lembraram pichações de grandes cidades. Além disso, um trabalho bem grande com tecidos metalizados (olha o metalizado novamente!) e malhas em matelassê. Os tênis e as botas vieram todos com cano alto, reforçando mais ainda o tema.

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Ale Brito apresentou sua coleção mais madura até agora: com um ar futurista-esportivo as roupas vieram em tons neutros e com cartela de cores pastel. Macacões, calças, bermudas e – com forte referência à Hood By Air – bandagens sobre o busto, tanto dos homens, quanto das mulheres. O metalizado foi afirmado novamente…

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Um dos desfiles mais aguardados dessa temporada ficou por conta da estreia do Emicida na Casa de Criadores, com sua linha Corre Sempre. O rapper, também em parceria com a West Coast e com estilista João Pimenta, expôs uma coleção com várias referências tipicamente africanas. Com cartela de cores mais terrosas e escuras, mostrou peças como se tivessem sido “usadas” por muito tempo, manchadas de tinta e que lembraram uniformes de operários industriais.

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A Cotton Project – marca querida pela cena cool de São Paulo – estreou no line up dessa edição com uma coleção um tanto controversa. “Nothing Club” é o tema da marca, que apresentou um conceito de “levar a vida com calma”, numa proposta de cotidiano mais low profile como antítese à geração afobada por super carreiras e dinheiro em excesso. Numa pegada meio safari, as peças vieram em tons terrosos: cáqui, marrom e off white. Além disso, uma alfaiataria fácil de usar e com cartela de cores sóbrias: do cinza chumbo ao branco. Teve até um super cachecol à lá Burberry…

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Igor Dadona apresentou sua coleção mais forte até agora. O jovem estilista mostrou visuais coesos e condizentes com a proposta da marca: mix de tribos urbanas; um “lugar” onde as periferias culturais das grandes cidades convergem com o mainstream. Do punk ao sertanejo, Igor mostrou roupas com tecidos pesados e cores fechadas. Assimetria, plissados e um ar escocês – através de xadrezes e kilts (saias masculinas típicas da Escócia).

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A Hangar 33, em parceria com Igor Dadona, mostrou sua coleção na Casa de Criadores pela terceira vez. Dadona criou a coleção pensando nos elementos típicos do universo aeronáutico ao lado de referências a tribos urbanas (assim como em sua marca homônima). Não espere, no entanto, que tenha caído na mesmice. As peças vieram em tecidos mais maleáveis: moletom, linho e jacquards (ora metalizados, ora com brilho fosco). Os highlights ficaram por conta das jaquetas típicas da marca, as Bombershell Doris, cheias de aplicações que remeteram tatuagens oldschool.

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Um dos desfiles mais marcantes foi o da Ben. A marca trouxe uma coleção com temática onírica, experimentando proporções assimétricas e sobreposições diversas. Entre o lúdico e o nostálgico, a marca propôs peças superleves, com malhas frias e tecidos de algodão. Casacos de neoprene com ar esportivo e algumas vezes texturizado. A modelagem desconstruída foi um destaque da coleção.

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No último dia da Casa de Criadores o evento foi aberto com desfile do Diego Fávaro. A coleção foi inspirada em elementos místicos e veio cheia de referências ao ocultismo. Intitulada “Six Six Six” (666), as roupas vieram quase todas em preto e sobrepondo outras peças de cores vibrantes, como amarelo e rosa.

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Ellias Kaleb mostrou uma coleção idealizada no conceito de “viajante espacial” – uma espécie de nômade sem gênero. As roupas vieram em tons sóbrios, quase sempre assimétricas e com tecidos metalizados (ora com lurex, ora paetizados). Como explica o estilista “roupa aconchegante e confortável para envolver o corpo, como um casulo que antecipa a metamorfose”.

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Intitulada “Coexistência”, a Också propôs sua coleção nas ideias de slow fashion – assim como a Cotton Projetc -, trazendo elementos onde o urbano coexiste com a natureza. Com materiais inusitados, o conjunto trouxe peças sobrepostas e com cores mais escuras (assim como quase todas) e modelagem ampla, fluida e distante do corpo. Tema recorrente da marca – e tendência máxima -, as peças foram pensadas para um público que se veste mesclando gêneros: bem semelhante a última coleção do Kanye West…

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Tarcísio Brandão apresentou uma das coleções mais interessantes: inspirado pela América Latina (sobretudo Peru e México), seu Inverno 2016 veio cheio de elementos artesanais típicos de povos indígenas dessas regiões, como maias, astecas e incas. Misturando cores neutras, como preto e branco, com cores mais remetentes ao tema, como vermelho e verde, as peças vieram com transparências, tecidos em jacquards e belas máscaras Yagé sobre o rosto dos modelos.

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O desfile do Felipe Fanaia foi um dos mais alvoroçados: sua coleção se baseou na tentativa da criar nostalgia através de elementos que estamos (uns mais, outros menos) familiarizadas desde a infância. A coleção – que foi muito parecida com as da Moschino, de Paris – trouxe peças ultracoloridas e em proporções gigantes. Além das cores, as estampas vieram em cortes de acordo com a proposta da peça: de um super pedaço de pizza (de peperoni!) ambulante a um crânio vestível, Fanaia mostrou que sabe ganhar atenção…

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Por fim, Rafael Caetano mostrou suas peças ligadas a uma temática de avanços da medicina e cura de doenças. Com este conceito um tanto abstrato, apresentou sua coleção em cartelas de cores também sóbrias: tons de preto e variações de amarelos e cinzas, além de modelagem mais arredondada e próximas ao corpo.

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